''não quero que o recordem com uma vida de dor mas sim uma vida de luta''

se soubesses o que me custa não te ver. chegar da escola e ir a correr para ti, de estar mal e tu estares lá para me abraçar, de me ires levar a escola ainda quando tinhas força, de cantares a nossa musica antes de eu ir dormir, de me ires deitar, de me dares aquele beijinho na testa de orgulho, de sorrisos, isso é das coisas que não me sai da cabeça. o som do teu riso, era tão suave mas ao mesmo tempo cativante. e o brilho dos teus olhos? via-se que era tão puro, que era tudo magnifico, perdia-me neles, eram profundos e quem te conhecia sabia o quão harmoniosos eles eram. tens noção o que é eu todos os dias me lembrar do teu cheiro, papá? das formas do teu corpo, da cor dos teus olhos, a curvatura que a tua cara fazia quando sorrias, a roupa que usavas, os teus hábitos, o que comias, a maneira como lançavas, é uma das coisas que também não me esqueço, batias a bola duas vezes no chão, giravas nas tuas mãos, olhavas para a mãe ou para mim e lançavas. se marcasses piscavas os olhos, e se não marcasses sorrias. não me esqueço da força inigualável que tinhas, de me dizeres '' também te prometo que vou sempre lutar com todas as minhas forças para continuar aqui...'' são palavras que ao ler me escorrem lágrimas pela cara. porque sabes, papá já passaste pelo mesmo que eu o teu pai também faleceu com cancro, sabes o que é estar no meu lugar. mas sabes bebe lindo, é a primeira vez que eu estou, portanto é muito difícil. ás vezes penso como foi duro ver-te a regredir lentamente a ver-te ficar em cadeiras de rodas a dares poucas passos por ti. mas lembro-me que no ultimo dia que te vi, estávamos chateados e fui-te deixar ao hospital com a mãe e despedimos-nos com um abraço enorme e não sei mas foi das coisas mais bonitas que senti, das mais sinceras, foi algo inexplicável e inatingível. nunca irei ter uma sensação parecida ou igual. também fiquei feliz por ti quando uns dias antes de partires, eu estava na cozinha e tu na sala e foste a casa de banho sozinho sem a cadeira de rodas, lembraste de como ficaste contente com isso? até deitaste pequenas lágrimas de alegria.
olha para trás para isto tudo, e obviamente que há uma dor incontrolável, que me atinge, que não a consigo parar por muito que queria, por muito que tente, ainda é cedo. ainda não me mentalizei que só te vou ver quando também partir. mas no meio de tanta dor e luta, tu mostraste a toda a gente o que era realmente um homem de armas, um homem que queria viver, um homem que amava todos e dava tudo por quem merecia ou não. eras uma boa pessoa, foste capaz de fazer com que eu marcasse o meu primeiro cesto, nunca mais que me esqueço que não FALHASTE um jogo, estivestes em todos os jogos ali, no banco a apoiar-me e como também eras treinador no final davas sempre aquelas tuas dicas. mas até quando estavas doentes e quando eu mudei para o rugby, tu mesmo doente e com poucas forças foste ver o meu primeiro jogo de rugby! aplaudiste e orgulhaste-me de o ter conseguido! há palavras que nunca se esquecem, mas um homem como tu, com a tua presença, com o teu amor, com a tua pureza e alegria isso sim não se esquece! foste e és o meu maior exemplo, o homem da minha vida, a pessoa que eu amo e que sei que irá sempre a olhar por mim seja em que lugar for. porque um pai é um pai e tu prometeste que ias olhar por mim e que me ias proteger. continuo a chamar por ti e impressionante não é? mesmo assim estando longe, tu não me falhas.
'' Basquetebol despede-se hoje de Martinho Henriques
o desporto de Coimbra está mais pobre com a morte de Martinho Henriques, de 51 anos. atraiçoado pela doença, deixou contudo uma herança de entrega ao basquetebol, modalidade que praticou durante anos a fio, jogando até aos 35 anos, sendo também treinador.
(...)Luís santarino recorda o excelente entrega, mas também amigo «incapaz de um mau gesto». Martinho representou a Académica de Coimbra, o Clube académico de Coimbra, o Sport conimbricense, o Sangalhos Clube, o Esgueira, entre outros.. ainda treinou o Sport e o Olivais...''Diário de Coimbra
Fizeram-te muitas homenagens papá carequinha , fiquei contente por saber que toda a gente te adora e que amava a pessoa que tu eras. quem não fica contente depois da partida de um ante-querido, ter a noção e sentir que foi um dos melhores jogadores, das pessoas mais lutadoras, das pessoas de quem se tem mais orgulho e a cima de tudo foi um exemplo de um excelente pai? em tanta dor não há melhor sensação que isto.